domingo, 3 de janeiro de 2016

NA OPORTUNIDADE DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER UMA HOMENAGEM A UMA MULHER INSPIRADORA

Nise da Silveira (1905-1999) nasceu em Maceió-AL e é uma das mais importantes médicas psiquiatras do século XX no Brasil, possuindo ainda reconhecimento internacional. Cursou Medicina nos anos 20 na Bahia, tendo sido a única mulher entre 157 homens a se formar naquela turma. Também foi uma das primeiras mulheres a se formar em Medicina no Brasil. Em 1936 é presa por ser considerada comunista, onde permaneceu por 18 meses. No presídio Frei Caneca-RJ também se encontrava Graciliano Ramos, motivo pelo qual Nise se tornou uma das personagens de seu famoso livro “Memórias do Cárcere”. Nos anos que se seguiram, por motivos políticos, a médica viveu na semi-clandestinidade, tendo retornado ao serviço público no ano de 1944, também no Rio de Janeiro.
Lotada no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro (1ª Instituição Psiquiátrica do Brasil), Nise da Silveira foi uma opositora ferrenha de métodos como: confinamento, eletrochoque, insulinoterapia e lobotomia, o quê lhe custou grandes retaliações. Contudo, Nise – detentora de uma personalidade fascinante e a exemplo do que ensinou em sua obra – não se rendia às opressões, fazendo destas, oportunidades para novas construções.
Assim é que introduz a utilização da pintura e modelagem no tratamento de pacientes psiquiátricos, sendo considerada uma das pioneiras da Reforma Psiquiátrica, bem como da Luta Antimanicomial no país. No ano de 1952 ela fundou o Museu Imagens do Inconsciente-RJ, um acervo com os materiais produzidos pelos pacientes, com fins de pesquisa sobre a esquizofrenia. O museu receebeu e acolhe até hoje visitantes do mundo inteiro, e foi motivação para exposições, pesquisas, livros e filmes – além de conceber e tratar tais pacientes como seres humanos. Disse outrora essa admirável precursora: “O que melhora o atendimento é o contato afetivo de uma pessoa com a outra. O que cura é a alegria, o que cura é a falta de preconceito.”
Nise também fundou outra instituição inovadora: a Casa das Palmeiras-RJ, em 1956 – uma clínica voltada para a reabilitação de antigos pacientes de instituições psiquiátricas. Introduziu e divulgou a Psicologia de Jung (importante teórico da Psicologia) no Brasil, com quem trocou extensa correspondência. Em 1958, incentivada por Carl Jung, ocupou 5 salas com trabalhos dos pacientes no “II Congresso Internacional de Psiquiatria” em Zurique, com a mostra “A Arte e a Esquizofrenia”. Durante uma década aproximadamente estudou a teoria de Jung e em 1968 escreveu o livro (dentre muitos outros): “Jung: Vida e Obra”. Foi fundadora membro da Sociedade Internacional da Expressão Psicopatológica, sediada em Paris.
Merecidamente Nise da Silveira foi reconhecida com prêmios, medalhas, condecorações e títulos em diferentes áreas. Viveu 94 anos dedicados à Psiquiatria, à Saúde Mental, à Psicoterapia, ao Ser Humano, à Vida. Esta lhe fez juz ao dar-lhe vida longa, ou o contrário: esta é que foi prestigiada com tão nobre presença. Frase de Nise da Silveira: “Não faz parte do meu vocabulário a palavra recuar, deve-se ir em frente. Anda-se para o futuro." Responsável por valoroso legado, tão inspiradora, tão genial, quanto humilde declarou certa vez: “Estou cada vez menos doutora, cada vez mais Nise”.
A história de Nise da Silveira foi estrelada no cinema pela atriz Glória Pires em 2014, no longametragem: “Nise da Silveira – A Senhora das Imagens”. Ferreira Gullar, em 1996, também escreveu um livro: “Nise da Silveira: Uma Psiquiatra Rebelde” – nada mais apropriado.
Lembro-me em 1999 quando vi anunciar no Jornal Nacional a morte de Nise da Silveira. Uma lamentável perda. Uma notícia em nada alcança a extensão de uma trajetória – principalmente quando ela é grande e profunda. Nise enfrentou o patriarcado, a ditadura, o ultrapassado. Revolucionária, jamais submeteu sua capacidade e sua ética a qualquer tipo de venda, amarra e prisão. Dedicou à vida aos estudos e ao trabalho, à ciência e à sociedade. Expôs para o mundo conteúdos silenciados, invisíveis – censurados. Mostrou o ser humano por detrás da pobreza e da loucura. Um ser humano sempre rico e belo.
Imersos em tantas “bobagens” e inutilidades, (um) salve as grandes personalidades. Salve as grandes mulheres e os grandes homens, que devem bem compreender e viver o que um dia disse o poeta: “Tudo é ousado pra quem nada se atreve” (Fernando Pessoa).
Thereza Erika
06/03/15

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