Fellipe sempre me pedia pra ter 2 cachorros e eu, irredutível, dizia que isto estava fora de cogitação.
Ser irredutível é uma atitude rara minha como mãe, pois costumo conversar com meu filho, negociar, acordar sobre um monte de coisas.
Às vezes até penso que não estou preparando-o bem, pois vivemos num mundo cheio de autoritarismo, rigidez e perversidade.
Recentemente mudou-se para o lado de nossa casa uma vizinha muito comunicativa e simpática. Fellipe, geralmente timido, rapidamente se afinou com ela. Foi professora toda a vida.
Ela disse ao Fellipe que tinha uma cadela que estava cheia de filhotes e que na próxima viagem a Campo Novo-MT traria pra cá. Meu filho muito animado perguntou se poderia ver os filhotinhos quando chegassem.
Não passou muito tempo, num final de semana, a vizinha viajou. Fellipe ficou de butuca e assim que avistou o carro da vizinha na garagem foi correndo, literalmente, pedir pra ver os cachorrinhos.
- Agora observem como uma mãe é enganada kkkkkkk:
Sem avisar Fellipe chegou em casa com um filhote nos braços. Alegou que era apenas por uma noite - que não ficaria com o cachorro em hipótese alguma, mas que seria muito legal o cachorro dormir em nossa casa.
Neste mesmo dia deu nome ao animal: Petruquio. Perguntei: "Fellipe, mas por que você vai dar nome ao cachorro, se você nem vai ficar com ele???"
- Por que?
E assim foram vários dias: Fellipe ficava de lá pra cá com o cachorro. Trazia o cachorro pra dormir... levava pra mamar na mãe... Às vezes ele passava a noite, o dia... Chegava da escola já corria na vizinha para pegar o cachorro. A forma como ficava no portão aguardando a vizinha trazer o pequeno cachorro... As pessoas sempre me perguntam o quê é felicidade. Felicidade era um pouco daquela alegria que ele expressava no rosto ao aguardar o cachorro no portão.
Um dia falei: "Fellipe, não se apega a esse cachorro!" Em tom sapeca, virou-se pra mim e disse: "Mãe, eu já estou apegado."
Contudo, chegou um dia que a vizinha deu um intimato nele: "Fellipe, ou fica com o cachorro ou devolve para eu dar pra outra pessoa."
Ouvi a conversa baixa dos dois por detrás do muro. Fellipe entrou em casa sabendo que seria quase impossível me convencer.
Perguntei, já sabendo, o quê ele e a vizinha tinham conversado.
Disse que não estava sob negociação.
Esse menino foi entrando numa tristeza, num desconsolo, num desespero sem fim. Começou a chorar, se abraçando com o cachorro. Disse que iria para o quarto dele e que queria ficar só. Lá ele chorava, chorava sem parar.
Fiquei muito tocada, percebi que seu sentimento e seu sofrimento era verdadeiro. Ele dizia: "Eu amo ele, eu amo ele...". Refleti e decidi reconsiderar, quando fui avisá-lo ele falava: "Não mãe, eu não quero te prejudicar...".
Falei pra ele se acalmar e quando se acalmou firmou todos os contratos possiveis e muito rápido o que era dor virou-se em alegria.
Falei pra ele se acalmar e quando se acalmou firmou todos os contratos possiveis e muito rápido o que era dor virou-se em alegria.
A maioria das coisas é negociável. Algumas coisas na vida não são ou não deveriam ser negociáveis . Mas até o que parece inegociável - ...Às vezes pode mudar.
02/12/2015
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