terça-feira, 9 de agosto de 2016

SOBRE O ESTUPRO


Ontem cheguei da caminhada, tomei um banho... Tocava uma música tão agradável, deitei/relaxei, li algumas coisas na internet, fiquei pensando, tão quieta - que meu filho perguntou se eu estava bem.

Eu estava. Refletia como era boa aquela sensação de conforto, de proteção, que estar na minha casa me trazia naquele momento. E pensava nas mulheres, nos textos que acabara de ler sobre estupro, no terror que é isto, em como pode ser terrível ter a integridade violada, perder essa sensação de conforto e proteção.

- Essa semana a rede social foi "invadida" por inúmeras postagens sobre o tema, pessoas mudando suas fotos de perfil, dando suas opiniões. Considero tudo isso muito válido, sou favorável: - Trazer o tema para o debate; Mas um movimento tão intenso me faz pensar que: - Mulheres sempre foram e são estupradas. Até que ponto fizemos ou faremos algo? Somos egoístas... Talvez passado o calor do momento, continuaremos a voltar para o aconchego de nossas casas e a viver nossas próprias vidas; Muito embora todas nós mulheres vivamos nos defendendo de ser estupradas, tanto real, quanto simbólica, ideologicamente.

Diante da notícia desta semana, de imediato me lembrei das pacientes que atendo e foram estupradas; ou das inúmeras mulheres que atendo ou já atendi e que foram abusadas na infância por seus pais, seus padrastos, seus tios, seus irmãos; ou das centenas de crianças, de meninas, que atendi e que foram vítimas de abuso. Lembrei-me delas e em princípio, não consegui falar.

O silêncio tomou conta de mim e ainda existe muito mais silêncio do que palavras, pois também me consternou o ocorrido com a menina de 16 anos no Rio de Janeiro.

(No trabalho, Winnicott contribuiu muito para o meu processo de ser psicoterapeuta: As palavras são fundamentais, mas é imprescindível saber ser continente, apesar de não ser tão simples sê-lo com a violência, a tragédia, a miséria humana; Um livro, chamado "Abuso e Trauma", também me ajudou sobremaneira nessa construção de caminhar com pacientes que passem por essas experiências).

Portanto, o meu silêncio não é de desconhecimento, nem de distanciamento, tão pouco de indiferença ou de resignação. É um silêncio de dor, é quando uma situação é tão absurda que ela te cala. Você precisa do silêncio pra se refazer por dentro enquanto pessoa, como ser humano.

...Mas espero - e acredito - que cada um de nós, da sua forma, possa lutar pela vida, pelo direito à vida, pela integridade uns dos outros.

28/05/2016

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