terça-feira, 9 de agosto de 2016

NÓS MESMOS

Um paciente* disse ter se lembrado de algo que falei tempos atrás e pegou-se sorrindo sozinho.

Esse paciente é homossexual e inicialmente trouxe para a psicoterapia seu sofrimento e seus conflitos relacionados ao fato de assumir ou não sua homossexualidade. A reação e o julgamento da família e da sociedade o atemorizavam, ainda que não tivesse vivenciado sua sexualidade.

A partir do contexto desta história, foi que o paciente relembrou com semblante aberto, alegre:

"(...) Numa das sessões eu quis falar de sexualidade (...) Eu nunca tinha beijado, dado um beijo, feito sexo e tudo mais (...) aí você falou: Mas você está muito devagar!!!"

Sorrimos muito (...) na sessão ao relembrar, pois o clima era de humor. Não recordo exatamente de ter falado, mas certamente falei. Ponderei com ele em tom humorado:

"Será que foi a Thereza ou a psicóloga que falou?!"...

Nessa mesma sessão abordou também um filme nacional que viu recentemente: "Hoje eu não quero voltar sozinho". Tirou o notebook da mochila para mostrar a cena que mais gostou: ...uma sequência que trazia o beijo de dois garotos. Disse-me:

"Não é pelo beijo, é uma cena bonita."

Vi ali um grande avanço do paciente. Conseguiu sentir-se muito alegre pela cena romântica de um filme, que retratou sua realidade, seus sentimentos, suas necessidades, seus sonhos. Viu-se no filme e relatou na terapia.

Sorriu porque sentiu-se "ele mesmo"... Porque por mais que doa às vezes, a gente é mais feliz quando é a gente mesmo;

E temos esse direito.

13/04/2016
* Relato autorizado
#direitosiguais
#abaixoahomofobia

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