terça-feira, 9 de agosto de 2016

RECONSIDERE

Estava atendendo uma paciente* hoje no CAPS que transpira humor - graça, embora diga-se pessoa triste.
O diálogo que passarei a reproduzir guarda um clima engraçado, embora possua também uma ideia importante.

Disse-me a paciente, com um pouco mais de ênfase:

"- Duas horas da madrugada eu fiz uma promessa pra Deus!... - 'Você' sabe que promessa que a gente faz pra Deus, tem que cumprir, que é coisa muito séria.
Ela continua:
...Que eu nunca mais (pensei que iria dizer que nunca mais se relacionaria com seu último companheiro, até concordaria) vou ter relação com homem, vou querer saber de homem nenhum nessa vida, nada com homem!!! - concluiu com seu jeito "sério-divertido".

Naquele "meu lugar" de psicoterapeuta (com postura, movimentos e fala de psicoterapeuta) olhando para a minha paciente rápida, mas suavemente falei:

- Acho que Deus pode reconsiderar essa sua promessa.

Com um olhar ligeiramente surpreso, mas aberta, aguardou-me. Então eu, com um movimento habitual das mãos para explicar algo, continuei:

- Você é mulher... Você tem desejo sexual, não tem? (acenou que sim, ainda bem).
Sexo, desejo, amor, companherismo, ternura, relação fazem parte do que é a vida. Não querer viver esse tipo de coisa é como dar às costas pra própria vida, disse a ela com delicadeza e confiança.
Em concordância, ficou reticente:
- É mesmo...
Falamos algumas coisas até que lhe disse, sabendo-lhe já convencida:

- Sobre esta promessa a Deus, reconsidere."

Ao sair, abraçada de lado comigo, declarou:
"Eu falo para a minha cunhada: O dia que eu falo com a 'Dra.' Thereza parece que o dia é melhor." Retornei-lhe com sorrisos: "Tem que ser por mais dias, todos os dias...".

Em verdade não sou eu, não é a psicoterapia, é a pulsão de vida dentro da própria pessoa que faz com que o dia fique melhor, que o caminho seja melhor.

30/06/2016
* Relato autorizado

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