terça-feira, 9 de agosto de 2016

HOMOFOBIA

Contou-me o paciente* que para ser admitido numa empresa da cidade precisou cortar os cabelos - que eram muito cumpridos; cortar as unhas; tirar os piercings, os brincos e os anéis. Ele o fez, pois sabia que caso contrário não conseguiria o emprego.

Que agressão. Que violência.

Cortar o cabelo não tem relação com o bom desempenho de tarefas. Ele pode ser preso, como fazem as aeromoças, as policiais militares, as cozinheiras:

"Poderia ter pedido pra eu prender que eu prenderia.", ele disse.

Afirmou ser um bom colaborador, mas após 3 meses na experiência  foi demitido, sem qualquer justificativa.

Isso aconteceu há 3 anos, foi seu primeiro emprego e desde então, por mais que procure trabalho não encontra. Por preconceito.

Vai ao SINE. Acompanha as vagas de trabalho 24 horas no face, ele diz. As vagas acabaram de ser anunciadas, mas quando chega aos lugares estão sempre preenchidas.

Já pensou até em se matar por causa disso.

A liberdade é um bem tão grandioso para o ser humano que se tornou direito fundamental. Precisamos respeitar a liberdade uns dos outros, a liberdade de cada um ser e viver o que necessita e quer. Respeitar as condições de gênero, as identidades. É sofrível demais pensar que um corte de cabelo garanta um trabalho, ou a falsa impressão de ser politicamente correto empregando um homossexual, um travesti:

"Depois de 3 meses eu fui demitido, fiquei sem cabelo e sem emprego. Eu chorei tanto quando eu perdi o meu emprego."

- Quando fui preencher a sua ficha antes da consulta, perguntei: "Você trabalha?", ele me disse: "Não, mas se você tiver um emprego pra me oferecer, eu faço qualquer coisa: faço diária, limpo chão, eu deixo uma cerâmica branquinha."

Ao final da consulta me mostrou fotos suas no celular. Tem orgulho de ser quem é. "O meu esmalte é verde nessa foto...":

"Eu só quero ter um emprego pra me arrumar, pra comprar minhas roupas. Só isso."

"...- O que você gosta de fazer? Já pensou em fazer uma faculdade?...
- Eu quero fazer Letras. Esse é meu sonho. Ser uma professora."

Nós psicoterapeutas consideramos positivo que as pessoas tenham sonhos, mais ainda que os realizem.

22/04/2016
* Relato autorizado.

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